Endividamento das famílias brasileiras atinge pico em sete meses

Uso de carnês registraram crescimento, consolidando-se como a segunda principal forma de endividamento, depois do cartão

Publicado em: 12/04/2025

Pela primeira vez desde setembro do ano passado, o percentual de famílias brasileiras com dívidas a vencer atingiu a marca de 77,1% em março, impulsionado pela busca por crédito em um cenário de juros ainda elevados. 


Apesar do aumento do endividamento pelo segundo mês consecutivo, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da CNC revela uma estabilidade na taxa de inadimplência, que se manteve em 28,6%, sinalizando um possível esforço das famílias em gerenciar suas finanças.


Os dados para março de 2025 pintam um retrato complexo da saúde financeira das famílias brasileiras. Enquanto o apetite por crédito cresce, impulsionado talvez por uma maior confiança no consumo e pela necessidade de reorganização orçamentária, a capacidade de honrar esses compromissos parece, por ora, se manter sob controle. 


O presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), José Roberto Tadros, interpreta esse cenário como um reflexo de uma maior consciência no uso do crédito, mesmo diante das pressões econômicas.


"O crédito tem papel fundamental no orçamento das famílias e no fomento ao consumo, mas precisa ser utilizado com planejamento, principalmente em um cenário de juros elevados. O avanço do endividamento com estabilidade da inadimplência sinaliza maior consciência no uso do crédito", avalia Tadros.


A projeção da CNC para o restante do ano aponta para uma continuidade dessa tendência, com um aumento esperado de 2,5 pontos percentuais no endividamento até o final de 2025. Em contrapartida, a inadimplência deve apresentar uma leve retração de 0,7 ponto percentual nos próximos 12 meses, indicando uma possível melhora na capacidade de pagamento das famílias.


Outro ponto relevante da pesquisa é a diminuição do tempo de inadimplência. Em março, 47,6% dos consumidores inadimplentes possuíam dívidas em atraso há mais de 90 dias, o menor patamar desde maio de 2024. 


Paralelamente, o comprometimento da renda com o pagamento de dívidas se manteve relativamente estável em 29,9%, embora uma parcela significativa de 20,8% das famílias ainda comprometa mais da metade de seus rendimentos com essas obrigações.


Carnês 


A pesquisa também revela uma mudança na preferência por modalidades de crédito. Embora o cartão de crédito continue sendo o mais utilizado, presente em 83,7% das famílias endividadas, sua participação diminuiu em relação ao ano anterior. Em contrapartida, os carnês registraram um crescimento significativo, consolidando-se como a segunda principal forma de endividamento, com um aumento de 1,3 ponto percentual na comparação anual.


Adicionalmente, a pesquisa aponta para um encurtamento nos prazos das dívidas. O percentual de famílias com compromissos superiores a um ano recuou para 34,4%, o menor nível desde agosto de 2024, enquanto cresceu o número de dívidas com vencimento entre três meses e um ano, indicando uma preferência por prazos mais curtos e, possivelmente, uma tentativa de reduzir o impacto dos juros a longo prazo.